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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Justiça Ancilar, de Ann Leckie


Estou sumido aqui do blog, eu sei, mas vida de editor tem suas responsabilidades, hehe. (Entenda lendo a postagem anterior a essa.)

No entanto, senti vontade de voltar aqui para falar do livro Justiça ancilar, da Ann Leckie, que acabei de ler — e senti essa vontade tanto pelos acertos quanto pelos erros, do livro e da editora Aleph.


Primeiro tenho que confessar minha dificuldade em acompanhar a narração da personagem principal. A história, caso não saibam, é narrada por uma inteligência artificial (isso não é spoiler) de uma nave. Disso, advém, ao menos inicialmente, uma narrativa seca, dura e impessoal. Ok, compreensível. A maluquice é que ela controla dezenas de "cascas" de pessoas e as usa como extensões táteis e interativas de si mesma; assim, ela tem inúmeras "eus" vagando por aí. Isso, ainda que tenha me confundido, foi interessantíssimo, porque gerava momentos bizarríssimos como "enquanto eu conversava com X, eu andei pela beira do lago e me vi conversando com Y. Y disse tal coisa, e eu respondi a X tal coisa no mesmo momento, enquanto observava Z a dois quilômetros dali". Louco :P

Nesse momento da trama eu ainda não estava conseguindo me conectar. Tudo estava parecendo (ainda que cool) um technobabble que poderia ter sido desenvolvido em 50% do espaço (e tempo) que a autora gastou para fazê-lo. Como li a versão e-book e ela apresenta muitos erros de revisão, confesso que estava avançando na leitura por insistência... e aí o livro quase me perdeu quando decidiu mudar, do nada, um termo que estava sendo usado, e que gerou alguma controvérsia na tradução do título.

O título original é Ancillary justice. Ancillary pode ser traduzido tanto para ancilar, como o foi, como para auxiliar. Eu, pessoalmente, prefiro o título Justiça ancilar do que Justiça auxiliar, mais pela estética mesmo, pelo estranhamento que causa ao usar uma palavra incomum. E provavelmente a editora teve, também, essa questão como ponto principal, e isso refletiu-se naquele erro que mencionei no parágrafo anterior. A tradução começa chamando as "pessoas extensões" da nave de auxiliares, e lá pela metade simplesmente começa a referir-se a elas como ancilares. Ocorrem ainda algumas instâncias de auxiliares, mas o novo termo segue até o fim do livro. Isso é um erro básico de revisão, desculpem ser tão chato, mas é. Está claro que não é erro do tradutor, mas da editora em si, que certamente mudou de ideia sobre o termo no meio do caminho e não teve o cuidado de fazer um simples "localizar e substituir" no arquivo de texto. Lembremos: li o e-book, e não sei se isso ocorre na versão física. Se não ocorrer, foi pouco caso com o e-book mesmo. (Isso não seria novidade — e não estou me referindo a essa editora apenas.)

Enfim; a história. Depois da metade a coisa engrena. Faz sentido o uso da impessoalidade da protagonista no começo, e o que isso se transforma tendo em vista a própria transformação da protagonista. Há toda uma questão também de gênero, onde não sabemos o gênero de umas 95% das personagens, mas isso não faz a menor diferença. (Fico curioso numa eventual adaptação cinematográfica; teriam que usar personagens altamente andróginos para atingir o mesmo fim...) No texto é usado sempre o gênero feminino (como se dissessem que aquela pessoa é uma engenheira, ou está preocupada), e isso também causa um estranhamento divertido ao ler que um personagem claramente masculino está chateada. Dá um nó legal nos neurônios. O trecho final do livro é excelente, e me deixou no hype de ler a continuação, e assim, apesar dos pesares, dei para o livro 4,5 de 5 estrelinhas no Skoob. Tirei essa 0,5 estrelinha mais pela lentidão do começo — que eu ainda acho que poderia ter sido menos chatinho — do que pelos erros da editora. Cada um no seu quadrado, e por isso eu preferi puxar a orelha por aqui, ao invés de avaliar mal a obra.

Acho que é só. Mas se quiser comentar algo aqui na postagem e conversar, será muito bem-vindo :)

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Editora Nocaute e a valorização da dedicação pela literatura


Vou começar este post tão importante com uma constatação simples:

Viver de literatura, hoje, no Brasil, é praticamente impossível — no entanto, trabalhar pela literatura não é.

Dedicar-se à cena requer, única e exclusivamente, vontade de ajudar. Mostrar a cara. Trabalhar de graça ou por permuta. Trabalhar pelo amor aos livros, às histórias escritas e aos mundos construídos com papel e tinta, orgânicos ou eletrônicos. Ajudar a fazer crescer um cenário restrito, de nicho, com — como ouvi num podcast uma vez — meia-dúzia de gatos pingados que vivem se encontrando por aí e acabam trabalhando juntos frequentemente.

Não está implícito em nada do que eu disse, vejam vocês, que deve haver a figura de uma grande editora ou muito investimento envolvido para fazer essa cena crescer. Só é necessário fazer um trabalho legal — como, por exemplo, eu tenho feito através de revisões freelance ou a edição/revisão dos contos que chegam no Leitor Cabuloso. Através desse trabalho legal veio, por exemplo, o convite para revisar a primeira coletânea do site Mitografias, que ganhou até prêmio. E esse tipo de coisa vale o investimento de tempo e esforço.

O amor pela literatura me fez, inicialmente, ler pra cacete, e a maturidade literária que isso me trouxe me transformaram de um mero leitor para um analista do que lia — e daí para um crítico do que eu lia, e então, revisor, e então... Perceberam? O tesão pela coisa não acabou, e sempre tem me levado ao próximo passo :)

E aí chegamos à editora Nocaute e ao título deste post.

Porque, através do reconhecimento do meu trabalho, fui convidado a me tornar co-editor da editora, junto ao Maik Bárbara.


Sim, é uma grande notícia — e uma puta responsabilidade. O catálogo da editora já está iniciado com quatro bons livros, deve dobrar no ano que vem e é um projeto diferente e com um enorme potencial. Tem tudo para se destacar cada vez mais no mercado, porque o mote da editora é apostar em narrativas não-convencionais e interessantes, que talvez não encontrassem espaço em grandes casas editoriais... e tenho certeza que todo mundo adora uma dose de novidade em meio a um mar de narrativas muito parecidas umas com as outras.

Sinto que é uma grande chance, essa que eu tenho, de fazer ainda mais pela literatura nacional, pelo cenário mesmo. Dar um ar de frescor pra coisa toda; dar uma renovada nas narrativas e fortalecer ainda mais esse pequeno nicho do entretenimento que amamos tanto.

Porque é disso que eu tenho falado desde o começo: ajudar.

Eu estou fazendo a minha parte — e vou fazer ainda mais com essa oportunidade de fazê-lo agora profissionalmente.

E você, tem feito a sua?

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Um trecho marcante de Edson Aran


6 — Os monarquistas e o comando verde-rosa 
As críticas às cidades-cubo diminuíram muito depois da crise de 2033. A máfia queniana entrou em choque com o Cartel de Comandatuba pela distribuição da droga MTA (metanfetamina transmorfa ativa) em São Paulo. Mil oitocentas e dezessete pessoas morreram no primeiro dia de combate. E mais três mil no dia seguinte. 
A polícia tentou intervir atacando um reduto queniano na zona norte. Os quenianos reagiram. Castraram 32 policiais e degolaram 57 delegados. A polícia, acuada, entrou em greve por melhores salários. Foi o caos. 
A cidade não podia contar com o governo federal. Na época, o presidente Frota enfrentava os separatistas monarquistas liderados por Dom Pedrinho de Orleans e Bragança, o autonomeado Dom Pedro III, Imperador do Brasil. 
A situação piorou mais ainda quando a corrente católica marxista teocrática rompeu definitivamente com o Vaticano e adotou a luta armada como meio legítimo para “implantar o paraíso socialista no reino do satanás capitalista". O país explodiu em guerra civil. Narcotraficantes matavam monarquistas que matavam teomarxistas que matavam qualquer um. 
As shopping cities se tornaram a única salvação para o consumidor médio e de bem com a vida."


A única diferença dessa capa para a do livro que tenho é que no meu está escrito "um romance em 4 tempos"

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Leituras de junho


Junho não foi um mês de muita leitura, porque minha vida está atarefadíssima — e, felizmente, vai ficar ainda mais —, mas li dois romances que encheram meu coraçãozinho peludo com um tanto de felicidade. Vamos a eles :)



Fazia tempo que eu não lia nada de fantasia clássica — e não esperava que O gigante enterrado, do japonês Kazuo Ishiguro, fosse uma obra assim. Isso me causou um estranhamento, no início (eu não leio sinopse nem nada sobre o livro quando posso evitar; via de regra, eu compro livros por indicações...), e não sei se o estranhamento foi por descobrir ser uma fantasia pós-arturiana feita por um japonês, ou se foi por o ser por um ganhador do Nobel. De qualquer forma, passado o estranhamento, fui entrando no clima e gostando cada vez mais da história e de acompanhar o adorável casal de velhinhos Axel e Beatrice em sua jornada. Descobrir junto a eles o que causa a névoa que cobre o reino e traz o esquecimento a todos, encontrar o guerreiro, o menino e o cavaleiro, entender o problema do gigante enterrado... Tudo isso foi emocionante e recompensador. O amor dos protagonistas é tocante ao ponto de nos fazer querer conhecê-los, nem que seja somente para vê-los de longe, juntos, interagindo, se amparando. Seguramente, posso dizer que esse é um romance sobre sentimentos, e são livros assim que me fazem entender por que a fantasia é um gênero tão marcante. Inclusive, apesar de Ishiguro não ter um estilo de escrita tão ágil quanto os escritores atuais, definitivamente me fez ter vontade de ler mais coisas suas. O próximo, então, deve ser o Não me abandone jamais. Ah: e como li em e-book, esse eu quero ter em versão física, porque a capa texturizada dele, áspera, com detalhezinhos dourados, é simplesmente linda.

*


Star Wars: Estrelas perdidas foi o primeiro romance original que li da saga, e comecei bem. Realmente já tinha ouvido falar bem dele, e esse foi um dos motivos que me levaram a escolhê-lo como o primeiro da jornada literária pela galáxia distante de muito tempo atrás. O outro motivo foi que eu estava curiosíssimo para descobrir como a autora, Claudia Gray, conduziria uma história de amor por esse cenário — e, ainda por cima, passando por todos os pontos principais da trama da trilogia clássica. A verdade é que ela conduziu essa história de forma incrivelmente deliciosa! Estrelas perdidas tem, sim, uma trama simples, de encontros e desencontros, como toda boa história de relacionamentos, mas é muitíssimo bem escrita, e subverte alguns elementos do gênero de forma interessante — como a forma como o casal protagonista reage aos elementos externos, nunca duvidando um do outro, sem sucumbir às intrigas que sempre ocorrem nessas tramas, e o final, que (claro que não vou dar spoiler), é interessantíssimo. Sem dúvida o livro foi um adendo à saga que aprofunda demais certas personagens e certas motivações por trás de seus atos, e uma excelente porta de entrada para os próximos livros. Em tempo: li esse livro em papel mesmo, e é um dos que eu vou guardar, ao lado do Star Wars: Episódios IV, V e VI da Darkside :)

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Leituras de maio


Indo direto ao assunto, vamos às minhas obras comentadas do mês de maio de 2018, esse ano tão esquisito para o Brasil, com greve nacional dos caminhoneiros, Copa do Mundo e sabe-se lá o que mais vem por aí...:


ROMANCES:




Já começo com os dois pés na porta: eu não estava psicologicamente preparado para o turbilhão de emoções que é o final — especialmente depois dos 80% — de Mistborn vol. 2: O Poço da Ascensão. Que livro, senhoras e senhores, que livro esse tal desse Brandon Sanderson escreveu...! Aliás, acho que já posso dizer: que série! (Se ainda não sabe do que estou falando, leia este post sobre o primeiro volume.) É meio que ponto pacífico que o segundo volume de qualquer trilogia é, literalmente, intermediário — vai retomar pontas soltas do primeiro, assentar as bases da conclusão, desenvolver melhor personagens que brilharão no terceiro volume e, eventualmente, matar queridinhos dos fãs. No entanto, apesar do Sanderson fazer realmente tudo isso, ele apresenta (ao menos nas duas obras que eu li) aventuras bem fechadinhas, com arcos próprios, que não deixa a impressão de serem os volumes 2 e 3, na verdade, um único livro cortado no meio. O Poço da Ascensão tem personagens próprios e dilemas próprios, e é deliciosamente agoniante. A evolução de Vin, de Straff Venture e de OreSeur é enorme, mas quem brilha mesmo são os ótimos Elend e Sazed. Mal posso esperar pelo terceiro livro dessa "primeira era" de Mistborn, intitulada O Herói das Eras :D



Até o dia em que o cão morreu é o primeiro romance que leio do Daniel Galera, e me surpreendeu positivamente. Por coisas que li sobre o autor em alguns cantos da internet, imaginei que ele fosse daqueles autores "cabeçudos", que privilegiam a forma acima do conteúdo, com longas digressões e fluxos de consciência, parágrafos longos e pontuação incomum — ou seja, tudo o que eu não costumo curtir muito. No entanto, Galera apresenta justamente o oposto disso: texto simples, frases bem construídas, trama que faz sentido (hehe) e interessante... A única pena é que é um livro curto — mas, talvez, exatamente por causa disso, é redondinho e muito agradável. Agora, sim, estou animado e confiante para partir para o seu famosíssimo Barba ensopada de sangue.


* * *

COLETÂNEAS:


Para conhecer o James Joyce, antes de me arriscar no Ulysses, resolvi me aventurar pelos contos de Dublinenses. Realmente percebe-se que o experimentalismo ficou todo por lá. Os contos dessa coletânea são contidos, cotidianos, simples até. Apresentam facetas da vida na capital irlandesa no início do século XX, em cenas que privilegiam o que escapa aos olhos de uma visão desatenta. Que os leitores não esperem tramas rocambolescas e plot twists aqui; o que vão encontrar são detalhes íntimos dos personagens, relações interpessoais, dramas privados e recortes do dia a dia. É o meu tipo preferido de leitura? Não. Mas não nego que ler Dublinenses me fez repensar um tanto o modo como eu vejo a literatura — e, principalmente, o que é um conto. Ah, recomendo fortemente o último conto; é, disparado, o melhor.



Fico muito chateado quando me decepciono com algo que, ao meu ver, prometia tanto. Space Opera: Odisseias fantásticas além da fronteira final, organizado por Hugo Vera & Larissa Caruso foi assim: uma decepção. Não tinha como dar errado; adoro contos e adoro space opera, esse divertido sub-gênero da ficção científica. No entanto... honestamente, não encontrei nessa coletânea um único conto que merecesse mais de 3 estrelas. Aliás, deve ter um ou dois que eu cheguei a ter vontade de ler inteiro. Não há nenhum mal-escrito; contudo, todos apresentam tramas batidas, personagens e ambientações repetitivas (para não dizer quase idênticas), e praticamente nada de realmente novo ou inesperado. Não sei se sou eu quem esperava demais, mas não creio que possa ser culpado por não gostar de nada dali. Aliás, "nada" não — a capa é bem bonita.

* * *

CONTO:



Feliz natal é um conto interessante da escritora Patrícia Melo. Foi publicado na Amazon gratuitamente para chamar atenção para o volume completo da coletânea de contos da autora, intitulado Escrevendo no escuro. Na trama, temos uma faxineira limpando um laboratório de um cientista, que trabalha com cobaias, e os desdobramentos das relações rotineiras entre todos esses elementos. Tem um final com uma revelação incômoda, mas honestamente acho que podia ter mais... emoção? no desenvolvimento. Por ser bem curto, vale a leitura.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Há um tubarão na piscina, de José Figueiredo




Há um tubarão na piscina é o romance de estreia do José Figueiredo, também conhecido como Jefferson Figueiredo, membro do podcast 30:MIN… e é um romance estranho. Não que isso seja uma crítica; acho que ele tinha toda a intenção de ser. Ele não tem a ambição de explicar tudo, nem de fazer o leitor se sentir confortável na leitura, nem em esclarecer detalhes dos personagens e eventos misteriosos e/ou sobrenaturais. Porque cabe uma explicação: esse livro é uma obra, pode–se dizer, de realismo mágico, e me lembrou muito das histórias de José J. Veiga (e, agora percebo, até mesmo na escrita). Mas vamos à trama.

Três amigos — Ângelo, Cândido e Regina — decidem viajar para Porto Alegre para encontrarem um rock star desaparecido, o tal do John Smith. A metódica Regina programa todo o plano de ação, mas é claro que as coisas saem totalmente do controle. Sim, tem um quê (um quêzão, um quêzíssimo) de Bolaño aqui, mesmo porque as referências não estão nem um pouco escondidas. (Aliás, cabe aqui um tópico: esse livro é um mosaico de referências, de filmes de faroeste a Murakami, e confesso que não devo ter pegado a maioria delas.) Outra coisa que eu confesso é que passei a gostar mesmo do livro a partir da inserção dos dois elementos fantásticos principais — uma personagem que é quase uma deusa (ou é uma deusa, sei lá) e um personagem que acorda de sonhos intranquilos metamorfoseado em… melhor ler para saber.

Não é o melhor livro do ano, mas tem seus encantos. Peca, contudo, em dois pontos: a capa, que não gostei e que parece rótulo de Tubaína, e do serviço de revisão da editora que beira o amador, com o tanto de erros que deixou passar. No entanto, isso não desabona a história, ainda que incomode.

Quem gosta de realismo mágico deve ler o Há um tubarão na piscina — e ler todas as notas de rodapé, porque são uma divertida atração a mais.


sexta-feira, 4 de maio de 2018

Leituras de Abril


Primeiramente, fora Temer. Segundamente, peço desculpas aos leitores do bróg por estar postando apenas esses posts de leituras do mês, e tão menos os posts, digamos, temáticos, ou monotemáticos, sei lá — mas vocês entenderam a ideia. É que está faltando tempo mesmo. Paciência. Mas, justamente por isso, esses posts “condensadões" são úteis; falo sobre todos os livros que quero falar e não deixo o blog morrer.

Esse mês de abril foi cheio de emoções, e nem todas elas boas. Li uns livros muito bons, descobri uma doença degenerativa na minha coluna, passei um final de semana num pesqueiro, terminamos — finalmente! —, eu e o Luís Beber, de escrever nosso livro em parceria (para lançamento em breve)… Enfim, vocês perceberam que realmente foi um mês de altos e baixos. E espero que os altos se proliferem e os baixos fiquem contornáveis :)

Mas vamos às obras do mês!


ROMANCES:



Que eu sempre gostei do Stephen King não é segredo, mas, mais uma vez, ele conseguiu me surpreender com Joyland. Dizem que não se deve julgar um livro pela capa, mas confesso que o que mais me atraiu nessa foi a ruiva que eu vim a descobrir ser a personagem Erin Cook. Essa ilustração, além de ser linda, muitíssimo bem executada, reflete perfeitamente a alma do livro — não que ela represente uma cena, exatamente, do romance, mas todos os elementos — e o clima — da ilustração são fidedignos ao que se encontra na história. Então, e a história? Vou contar a vocês que nunca imaginei que Stephen King pudesse ser tão… murakamesco. Quê?! Murakami e King na mesma frase? Sim! Olha que fantástico! Devin Jones, o protagonista de Joyland, poderia muito bem ser um personagem escrito pelo japonês — é melancólico, é uma boa pessoa, adora caminhar para aproveitar seus momentos de introspecção, é altamente mediano (mas com eventuais arroubos de protagonismo)… mas, apesar disso tudo, é um personagem cativante. Os coadjuvantes, como em qualquer obra do King, são adoráveis; bem-construídos e realistas — tanto que, lá pela metade do livro, eu me pego pensando: “que merda… esse é um livro do Stephen King… logo, logo, alguém vai se foder grandão… alguém ou todo mundo… vai vendo…" — mas, incrivelmente, não! Não estou dando spoiler; estou só dizendo que esta não é uma história típica do Stephen King! Arrisco mais uma vez dizer que é uma história que Haruki Murakami escreveria se fosse obrigado a escrever um thriller. Então, acreditem no que eu digo: o mestre King sempre surpreende. Leiam sem receio.



Mais uma vez, outro que deixei passar o hype para ler o Guerra do velho, e posso dizer com toda a tranquilidade: QUE LIVRO FODA. A começar pela capa, que vende exatamente o que a história é. Passando pela escrita do John Scalzi, que é leve, fluida e sem grandes pretensões. Continuando pelos personagens, que são cativantes e bem construídos (só acho que o protagonista é sortudo até demais…). E culminando na história, que, basicamente — e o autor não esconde isso de ninguém — pegou a ideia apresentada em Tropas estelares e a ampliou para um universo interessante, variado e coeso, com adendos de incrível criatividade. Guerra do velho pega o que foi consolidado com as grandes space operas do passado e entrega uma história moderna e deliciosa. 'Bora pro próximo livro, o As Brigadas Fantasma :)



E, enfim, a trilogia Comando Sul do escritor Jeff VanderMeer termina, com o romance Aceitação… e eu tenho algumas considerações tanto do romance quanto da trilogia em geral — e, inclusive, do filme Aniquilação. Mas, Rahmati, do filme também? Sim, porque o filme é um resumão da trilogia toda. Mas, antes, ao que interessa: esse terceiro volume é tão bom quanto o primeiro, ou mesmo tão razoável quanto o segundo? A resposta é simples: não. E talvez o culpado disso seja o filme. Vejam bem, não estou dizendo que os livros são ruins. A história toda é uma das coisas mais estranhas que eu já li — aliás, essa seria uma boa definição das duas mídias, livros e filme: é uma grande história de estranhamento com momentos de terror. Só que, enquanto o primeiro volume te introduz num mundo original para caramba, o segundo monta as bases e o terceiro dá os toques finais — porque não dá explicações, coisa que o filme faz. O problema é que os livros, falando do Autoridade e do Aceitação, enrolam demais. Dava, com folga, para ter feito um único livro, lá com suas 450 páginas, mas que fosse mais direto ao ponto, assim como o filme fez. Então o filme é uma boa adaptação? É! Porque tudo o que tem no livro está lá de alguma forma (e aqui vão os spoilers de ambos): o bicho que grita, que foi transposto para o urso decomposto; o duplo do faroleiro, que virou o duplo do marido da bióloga; o rastejador, que se transformou no alien do final… Só não gostei do filme ter entregado a origem da Área X na primeira cena, mostrando o meteoro. Mas… e o personagem John Rodriguez, o Controle? Sério: o que ele fez no livro? Serviu para quê? Não fez falta nenhuma. Em resumo: eu explico a Área X para mim mesmo como uma espécie de câncer do planeta. No filme, é aquele câncer que mata rapidamente; no livro, é o que mata aos poucos.



Comentários nesse post :)


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CONTO:


Mais um ótimo texto do Leonel Caldela, esse conto O cão é bem-escrito, denso, dramático e impactante. É uma história de fantasia que dialoga com outras obras do autor, como O código élfico e O caçador de apóstolos, mas não creio que se passe realmente no universo de alguma delas. É mais como uma “realidade alternativa", acho (coisa que gosto de fazer nas minhas obras também; todas têm elementos umas das outras). Para não variar, Leonel é brutal com seus personagens — e, aqui, isso se reflete principalmente no final, porque, apesar de eu imaginar que havia alguma coisa ali, eu jamais poderia esperar aquilo. Mais um ponto para o Caldela, e espero ansiosamente sua próxima obra que não for da série Ruff Ghanor.